Portal de videoaulas da USP disponibiliza conteúdos produzidos no ICMC

Com as ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente, o sistema de ensino passa por mudanças em vários aspectos. Um exemplo é a disponibilização gratuita de aulas interativas na internet, que vem sendo a aposta das melhores universidades do planeta, como Harvard, Yale e MIT. Na Universidade de São Paulo (USP), essa iniciativa vem ganhando cada vez mais espaço.

O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) já participa do e-Aulas USP, um portal com videoaulas produzidas pelos professores da universidade. Apesar de seu caráter complementar, os vídeos estão disponíveis para qualquer pessoa que se interesse pelo conteúdo, não precisando necessariamente ser aluno da USP.

No ICMC, há um grupo responsável por implementar e incentivar a produção de videoaulas, liderado pela professora Renata Pontin Fortes, presidente da Comissão de Graduação. Para a docente, o futuro das aulas interativas tem grande peso no complemento de aulas presenciais. “Acredito que atualmente muitas aulas presenciais são complementadas com aulas em vídeos e outros meios de mecanismos interativos na internet e na web em geral”, acrescentou.

Ela acredita ser esta uma oportunidade para que os estudantes aprendam a ser críticos e a filtrar os conteúdos. “A web hoje dissemina diversos conteúdos que devem ser criteriosamente preparados, pois o grande problema dessa maximização é a variedade. Com isso, as pessoas precisam saber filtrar o que é bom e o que é ruim. Com essa participação da sociedade, esse tipo de critério passa a ser também disseminado", observou.

O professor Daniel Smania, do Departamento de Matemática, produziu os primeiros conteúdos do ICMC disponibilizados no e-Aulas. São mais de sessenta vídeos da disciplina de Cálculo I. Ele afirma que o futuro das aulas interativas é muito relativo. “Temos professores no Brasil e exterior - e mesmo alunos e ex-alunos - fazendo vídeos por conta própria e divulgando-os no YouTube, sem estarem ligados a iniciativas institucionais de universidades. Temos também a Khan Academy, uma instituição sem fins lucrativos, que não oferece cursos formais, mas apenas vídeos que são distribuídos gratuitamente. Algumas universidades de muito prestígio, como Harvard e MIT, estão oferecendo cursos online completos e gratuitos, os chamados Massively Open Online Courses (MOOC), que têm atraído muito interesse. Estes são cursos formais independentes, não presenciais. Outras iniciativas consistem em cursos semi-presenciais”, explicou o docente.

Smania acredita que é tudo muito experimental. “Ainda não temos muitos dados concretos sobre a efetividade de cada uma destas iniciativas.  É um mundo totalmente novo, cheio de oportunidades e perigos, mas acho que vale a pena participarmos deste processo de tentativas e erros até entendermos quais são os melhores modos de se utilizar esta tecnologia”, completou.

O conteúdo dos vídeos geralmente é diferente daquele dado em sala de aula. Neles, o professor trata de apenas um tema específico, aprofundando-se. Smania conta que se inspirou nos vídeos gravados pela Khan Academy. “A maioria são vídeos curtos bem simples, o que me motivou a tentar fazê-los. Basta um computador, um bom microfone, uma mesa digitalizadora simples e software para captura e edição dos vídeos. Nada muito caro. Fiz alguns vídeos e os postei em meu canal no YouTube (SmaniaMat). Naquela época (junho de 2011) o portal e-Aulas sequer existia. Um vídeo levava ao outro, e já produzimos mais de sessenta”, explicou.

Superando obstáculos

Renata Pontin disse que leva um tempo até os professores se aperfeiçoarem, e que este é o principal obstáculo para a produção em massa de aulas interativas. “É necessário uma preparação para as aulas presenciais, em que os docentes pensam sempre em se preparar pra fazer um material didático como se fosse um livro. O mesmo acontece com as aulas interativas, só que com mais agilidade".

Outra dificuldade que os professores encontram é identificar qual conteúdo é interessante para o público. "Em termos de aula presencial, eles têm um convívio muito grande com os alunos. O processo de ensino-aprendizagem é de dupla mão. Tanto os professores estão ali conduzindo o processo de aprendizagem, quanto os alunos também, de certa forma, estão norteando, dando indicadores, respondendo as questões e fazendo mais perguntas, enfim participando”, revelou Renata.

Pontin acredita que, antes de tudo, o professor deve perceber a oportunidade que tem em mãos e ter boa vontade parar disseminar conhecimento. “Muitas vezes os próprios professores pensam em diferentes estratégias para compartilhar o conhecimento e instigar as pessoas a quererem saber mais sobre determinado assunto. Quando eles veem essa oportunidade, acabam produzindo um material muito rico, pois na maioria das vezes não dá tempo de passar todo o conteúdo necessário em sala de aula”, contou.

A docente finaliza dizendo que, apesar das dificuldades, os professores sentem-se motivados. “Sem dúvida nenhuma existem professores aptos a produzirem os vídeos, basta que eles separem um tempo e dediquem-se a isso”, finalizou.


Criado por Rodrigo Lima