Com a escolha de Michel Temer para a articulação política, a presidente Dilma Rousseff vai tentar esvaziar um pouco o papel de primeiro-ministro ocupado, na prática, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O problema é que ela agiu tarde, o que deve dificultar a missão de Temer.
No Palácio do Planalto, um ministro fez a seguinte avaliação recentemente: Dilma havia conseguido criar um primeiro-ministro de fato no país, que seria o presidente da Câmara. Assim, Cunha passou a adotar uma agenda de votação totalmente livre de compromisso com o governo. O exemplo mais recente foi a aprovação, ontem, do projeto que amplia de um jeito muito preocupante as regras para terceirização.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que disputou as últimas eleições com Dilma, utilizou um termo forte ao afirmar que a presidente teria feito uma “renúncia branca” ao escolher Temer. Mas, sem dúvida, em cem dias de governo, Dilma abriu mão de mais poder do que ela imaginava que faria. E só fez isso porque não tem saída política melhor.
O vice-presidente, porém, obteve apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros, que estava incomodado com a proeminência de Cunha no Congresso. Temer terá poder de fato sobre cargos de segundo e terceiro escalão e está tentando negociar um equilíbrio de poderes dentro do PMDB.
Isso passa por fazer o ex-presidente da Câmara Henrique Alves virar ministro do Turismo. Achar um cargo para Vinicius Lages, atual titular do Turismo e apadrinhado de Renan. Ouvir o presidente do Senado sobre a indicação para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, que está aberta desde julho do ano passado. E, por último, articular a ida do senador Romero Jucá (RR), que é um hábil operador no Senado, para a presidência do PMDB.
O pacote Temer tem chance de acalmar ou, pelo menos, reduzir o ímpeto peemedebista contra Dilma. Olhando tudo isso, o senador Aécio Neves tem mais razão quando diz que a presidente é hoje refém de Joaquim Levy e do PMDB. E é justo dizer que foi Dilma quem mais trabalhou para chegar a essa situação.
21/Outubro/2023
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