O nome é Luiz Augusto Zanon. A função é comandar a Seleção Brasileira Adulta Feminina. O objetivo é a conquista de muitos títulos dirigindo a equipe nacional. Essas são as palavras do coerente técnico, que recentemente assumiu o cargo na equipe nacional. Nessa entrevista, Zanon falou do planejamento para o time, de suas expectativas para as próximas competições e de seus 36 anos de carreira dedicados ao basquete. Único técnico do país campeão brasileiro masculino e feminino, Zanon tem ainda muito do que se orgulhar de sua família: a esposa Érica e os filhos Carolina, Camila e Caio.
Qual o seu planejamento à frente da Seleção Feminina?
Estou seguindo o planejamento feito na temporada passada. Vou cumpri-lo, mas temos o outro trabalho que é fazer uma mesclagem das novas atletas com as mais experientes. É preciso dar experiência para essas meninas novas e saber o real potencial internacional de cada uma, pois sabemos da diferença do mercado interno para o de fora. Vamos realizar dois amistosos contra as equipes da WNBA, o Atlanta Dream, da Érika, e o Washington D.C., da Iziane. Quero que as meninas conheçam outro universo que elas ainda não conhecem. Quero o melhor para o Brasil e poder dar minha contribuição em formar o melhor elenco em prol da seleção brasileira.
Quais suas expectativas como técnico para o Pré-Mundial deste ano, no México?
Vamos primeiro disputar o Campeonato Sul-Americano, no mês julho, que classificará quatro seleções para a Copa América do México, em setembro. A Copa América definirá os três primeiros para o Campeonato Mundial da Turquia, em 2014. Vamos tentar formar uma seleção brasileira forte e de alta qualidade técnica para disputar o título da competição. Temos um grande caminho para trilhar.
E quais as chances do Brasil na competição?
Se conseguirmos implementar a filosofia e a organização que precisamos e objetivamos, com certeza, serão as melhores chances possíveis. Estamos implementando uma ideia nova e queremos o título.
Analisando a atual geração de jogadoras, o que esperar do basquete nacional para os próximos anos?
Precisamos trabalhar muito e enfatizar que é preciso melhorar o conceito e os fundamentos de toda uma geração, desenvolvendo assim a qualidade dessas jogadoras. E juntos com as escolas, aumentar o número de praticantes e de interessados na modalidade.
Como avalia seu desempenho como técnico?
Acho que procuro sempre a evolução, a melhoria e ter coerência no meu trabalho.
Como foi o início da carreira?
No primeiro momento, foi muito bom. Comecei em 2003, e em 2004 já conquistei um vice-campeonato paulista. A aceitação foi muito grande de um início bastante promissor. Diria que até bastante arrojado.
Quais foram os técnicos que ajudaram na sua formação?
Todos os meus técnicos, enquanto jogador, contribuíram comigo. Aproveitei tudo. Usei o bom e aquilo que não concordava também. Tive técnicos que eram mais treinadores e outros que eram mais estrategistas. Não seria justo citar apenas um. O que sempre utilizei foi fazer um apanhado da minha carreira como atleta para me espelhar como técnico naqueles que eram os melhores.
Sua primeira convocação para a Seleção Brasileira Adulta foi pelo ex-técnico Ary Vidal. Ele seria um desses professores que você se espelhou?
Com certeza. Foi um dos técnicos com que mais aprendi e observei. Ele era muito inteligente e estrategista e tinha muito carinho com os jogadores. Foi um grande prazer ter tido a oportunidade de trabalhar com ele.
Como foi sua adaptação no basquete feminino?
Já fazem três anos e três meses que estou vivendo o basquete feminino. Os primeiros três meses foram horríveis. Estranhei e achei muito diferente do masculino. Não consegui fazer muita coisa, pois as meninas tinham muita resistência ao meu estilo. Nos últimos três anos, elas compreenderam que eu queria o melhor para elas. A partir daí foi maravilhoso. Elas entenderam que quando faziam o que eu pedia aumentava o potencial delas. Foram três anos de muito trabalho e evolução. Na seleção, as jogadoras já entenderam que gosto de cobrar bastante e quero sempre mais do que realmente estão mostrando.
O que o basquete representa para a sua vida?
Vou fazer 50 anos, e desde que tenho 14 estou no basquete. São 36 anos dedicados ao basquete, que é o combustível da minha vida. Graças a esse esporte aprendi a ser uma pessoa melhor, a ser competitivo e paciencioso. Hoje, quero devolver um pouco de toda a contribuição que recebi nesses 36 anos como atleta e técnico.
Em todos esses anos quais os momentos foram os mais importantes?
Eu acho que o atual momento é sempre o mais importante, pois é o que estamos vivendo. Mas tive várias passagens que foram muito importantes, como meu início como atleta em São Carlos (SP), depois as primeiras conquistas. A primeira convocação para a seleção de base e a primeira na categoria adulta. O título do Sul-Americano (Equador – 1989) e, claro, as frustrações como os cortes. Nunca tive a oportunidade de disputar uma Olimpíada como atleta. Não poderia deixar de citar as várias conquistas profissionais como técnico em que fui eleito várias vezes o melhor. Nas conquistas pessoais, os meus filhos que são a minha razão. Espero, agora, ter muitos momentos importantes pela frente no comando da seleção.
Você teve a oportunidade de defender a Seleção Brasileira como jogador e como técnico? São emoções diferentes?
São muito diferentes. Como jogador, quando recebemos a convocação e vemos nosso nome na lista o sentimento é de muita empolgação. Quando fui convidado para comandar o Brasil como técnico, o sentimento foi de responsabilidade. A primeira vez que entrei no hotel da seleção, como técnico, senti um frio na barriga e também tive orgulho. Sei da responsabilidade que tenho pela frente e quero fazer o máximo para alcançarmos nosso objetivo.
No comando da equipe do Unimed/Americana, desde 2009, qual a sua análise da Liga de Basquete Feminino 2013?
Acho que foi muito bom e importante para a modalidade termos todas as jogadoras que disputaram os Jogos Olímpicos de Londres atuando na LBF. Significou que tudo que temos de melhor está aqui. A presença dessas jogadoras também desperta o interesse nas bases e o surgimento de mais gente praticando. Se fosse fazer uma critica, seria somente quanto ao número de clubes participantes. Mas o nível técnico foi altíssimo e convoquei 11 jogadoras que disputaram a LBF. Apenas a armadora Ariani Sousa que estava jogando o universitário nos Estados Unidos, mas que já está de mudança para o Brasil.
Existe um segredo para o sucesso do Unimed/Americana?
Americana tem um projeto muito bem estruturado e elaborado. São quase 11 anos sempre melhorando e fabricando jogadoras. Eu faço parte desse projeto há três anos e meio e tem sido realmente muito bem feito. O presidente Ricardo Molina e o coordenador Vita [preparador físico da seleção feminina], dirigem muito bem o clube, além, é claro, dos parceiros integrados, que cada um dentro do seu setor são muito comprometidos. A gerência faz um trabalho de formação maravilhoso na formação de atletas. São vários anos de junção e uma comissão técnica comprometida em valorizar todo esse processo. Todos nós temos obrigações e deveres. Acho que é um modelo que deveria ser seguido por vários clubes, tanto feminino quanto masculino.
Qual a importância da torcida para a equipe?
Acredito que a torcida sempre ajuda trazendo a motivação extra. Mas a empolgação da torcida vem com o resultado e a produção do time. Esperamos contar com a torcida brasileira nos jogos que vamos disputar.
Você tem algum ritual antes dos jogos?
Não tenho rituais. Mas sou católico, então procuro fazer minhas preces e agradecer pelas situações que estamos. É mais uma fé íntima e uma conversa com Deus. Não é sempre, mas procuro sempre fazer uma oração antes para agradecer pelo apoio nos momentos difíceis e agradecer sempre.
Na folga entre treino, jogo e competições o que gosta de fazer?
Sou bastante caseiro. Gosto de fazer programas em casa com a família ou sair para jantar com eles. Gostamos de nos unir e fazer um almoço diferente ou passeios na casa dos avós. No fim de semana, é a minha esposa que normalmente cozinha, mas também dou uma folga para ela e preparo um churrasco.
Como é Luiz Augusto Zanon fora das quadras?
Sou extremamente família e muito dedicado aos meus filhos e esposa. A minha família é a minha base. Curto muito o que eles fazem e pra mim e só de estar com eles está ótimo. Me sinto completo com meus filhos [Carolina, Camila e Caio] e minha esposa Érica.
Você tem três filhos. Nenhum quis seguir a mesma carreira?
Eu acredito que a pessoa tem que fazer o que mais gosta. O Caio chegou a jogar basquete, mas sempre deixou claro que não era o objetivo dele. A minha filha mais velha, a Carolina, está fazendo concurso e está prestes a realizar o sonho de se tornar promotora de justiça. Já a Camila e o Caio tinham o sonho de serem médicos. Os dois se formam esse ano. Acho que puxaram mais a minha esposa Érica, que é professora e tem mestrado em literatura. Eu também sempre incentivei a fazerem o que eles estavam sentindo que fizessem bem a eles. Acho que isso é sempre o mais importante da vida.
Que conselhos você daria para o técnico que está começando, mas que sonha em chegar ao comando de uma Seleção Brasileira?
Daria apenas um caminho. Trabalho, convicção e coerência no trabalho. Pode até demorar, mas te levará ao sucesso.
21/Outubro/2023
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